TECNOLOGIA E TRANSFORMAÇÃO HUMANA: OS IMPACTOS DA ROBÓTICA E DA IA NA SAÚDE
por labsul | mai 22, 2025 | Publicações
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O avanço tecnológico dos últimos séculos inaugurou a chamada Quarta Revolução Industrial, que provocou uma transformação profunda nas dinâmicas sociais e promove a fusão entre tecnologias digitais, físicas e biológicas, projetando um futuro cada vez mais integrado entre corpo humano e máquina.
A Quarta Revolução Industrial tem transformado diversos setores da sociedade, sendo a medicina um dos campos mais impactados por essa nova era. Nesse contexto, a robótica e a inteligência artificial surgem como protagonistas de uma revolução na forma como a saúde é promovida, diagnosticada e tratada. Robôs cirúrgicos, sistemas de reabilitação automatizados e assistentes médicos baseados em inteligência artificial representam a convergência entre inovação tecnológica e cuidado humano, oferecendo procedimentos mais precisos, diagnósticos mais rápidos e tratamentos personalizados.
A medicina integrada às tecnologias já apresenta um panorama de transformação acelerado. Exames de imagem interpretados por inteligência artificial, algoritmos que analisam históricos médicos para prever doenças com antecedência e dispositivos vestíveis que monitoram constantemente sinais vitais são exemplos concretos dessa evolução em curso. Além disso, plataformas digitais e sistemas de saúde conectados possibilitam uma medicina mais preventiva, personalizada e baseada em dados, ampliando o acesso ao diagnóstico precoce e à gestão eficiente de tratamentos.
Um exemplo notável desse avanço é o sistema robótico Da Vinci, considerado o mais avançado e amplamente utilizado no mundo. Desenvolvido pela Intuitive Surgical, o Da Vinci permite a realização de cirurgias minimamente invasivas com alta precisão, utilizando braços robóticos articulados que replicam os movimentos do cirurgião com extrema fidelidade, filtrando tremores naturais das mãos. O console do cirurgião oferece uma visão tridimensional em alta definição do campo operatório, proporcionando um controle preciso dos instrumentos cirúrgicos.
Utilizado em diversas especialidades, como urologia, ginecologia, cirurgia geral e cardíaca, o Da Vinci possibilita incisões menores, recuperação mais rápida e menor risco de complicações em comparação às cirurgias abertas tradicionais, consolidando-se como uma referência em robótica médica. Recentemente cientistas aperfeiçoaram o sistema com a utilização de inteligência artificial, o método combinou táticas de imitação do sistema Da Vinci com o modo de operação do Chat GPT, mas, ao contrário da inteligência artificial escrita, essa usa a cinemática para conseguir executar os movimentos ensinados através de vídeos de procedimentos, concedendo autonomia total ao robô não apenas para pequenos auxílios, mas para cirurgias completas.
Com o avanço contínuo da robótica, da inteligência artificial e das biotecnologias, a medicina tende a evoluir de uma abordagem reativa para uma abordagem preditiva e proativa. Em vez de tratar doenças quando elas já se manifestaram, os sistemas médicos do futuro poderão identificá-las antes mesmo dos primeiros sintomas, intervir geneticamente em predisposições hereditárias ou corrigir falhas celulares antes que se tornem patologias. Essa progressão abrirá caminho para práticas como a medicina regenerativa, o uso de gêmeos digitais, réplicas virtuais de pacientes usadas para testar tratamentos, e intervenções cirúrgicas totalmente autônomas realizadas por robôs hiper precisos.
Essa integração também se estenderá ao cotidiano dos pacientes, com dispositivos implantáveis e conectados que não apenas monitorarão a saúde em tempo real, mas se comunicarão diretamente com sistemas médicos, ajustando medicações automaticamente ou emitindo alertas em caso de anormalidades. Desse modo, a medicina não estará mais confinada a clínicas e hospitais, mas presente de forma contínua e integrada ao corpo humano, transformando a relação entre as pessoas, suas doenças e seus tratamentos.
Ainda, é relativamente consensual que o futuro reserva um cenário mais ousado: o do aprimoramento humano. Esse desenvolvimento alterará significativamente os dilemas tradicionais da medicina e da moralidade, adentrando um estágio completamente novo e desconhecido. Em um futuro relativamente próximo, a inteligência artificial estará integrada a corpos humanos potencializados pela biotecnologia.
A incorporação da inteligência artificial e da robótica em corpos humanos, por meio de interfaces cérebro-máquina, próteses neurais e dispositivos inteligentes implantáveis, promete superar limitações cognitivas, sensoriais e motoras. Combinada à biotecnologia, que possibilita edição genética, regeneração de tecidos ou cultivo de órgãos sob demanda, a inteligência artificial se tornaria não apenas uma ferramenta de suporte, mas uma extensão do próprio corpo e mente. Isso não só aumentaria a longevidade, mas também transformaria radicalmente a identidade e o próprio conceito do que significa ser humano.
O resultado dessa fusão é a criação de um ser pós-humano ou transumano: um organismo que transcende os limites da biologia evolutiva com a precisão e eficiência tecnológica de uma máquina. A inteligência artificial, nesse cenário, atua como uma extensão da consciência, gerando uma forma de vida híbrida, entre o orgânico e o digital, com capacidades cognitivas aumentadas, memórias ampliadas, raciocínio preditivo e acesso em tempo real a bancos de dados. Tal realidade é tecnicamente possível nas próximas décadas, impulsionada por avanços como o Neuralink e outras pesquisas de neuroengenharia.
Entretanto, esse futuro carrega riscos profundos. O aprimoramento humano, amplamente defendido pelos transumanistas, compromete-se com o direcionamento das novas tecnologias para o bem-estar humano, com responsabilidade moral, mas sem se limitar por barreiras políticas, culturais ou biológicas. O objetivo dos transumanistas não é atingir um ponto final na evolução, mas trilhar um caminho contínuo de superação das limitações humanas.
Embora reconheçam os riscos das tecnologias disruptivas, os adeptos do aprimoramento humano argumentam que negar avanços capazes de prevenir sofrimentos, curar doenças e prolongar a vida seria eticamente condenável. Por isso, defendem o investimento em pesquisa responsável e a antecipação de riscos, buscando minimizar impactos negativos por meio de um controle ético e científico rigoroso.
O futuro do ser humano fundido à inteligência artificial, a robótica e à biotecnologia não é mais ficção científica, mas uma possibilidade real em construção. Ele representa, ao mesmo tempo, a esperança de superação da dor, da limitação e da morte, e o risco de desumanização e aprofundamento das desigualdades sociais.
Essas tecnologias têm potencial para melhorar significativamente a qualidade de vida, sobretudo de populações vulneráveis. No entanto, para que esses avanços beneficiem a todos de forma equitativa, é essencial enfrentar os desafios apontados: garantir a distribuição justa dos benefícios, gerenciar os riscos e assegurar que as inovações sejam centradas no ser humano.
Reconhece-se que a ciência não acontece de maneira isolada, ela avança de forma interconectada em escala global. Por isso, questões éticas, sociais e jurídicas precisam de constante reequilíbrio para manter o progresso no rumo certo. A tecnologia que resolve muitos problemas humanos, ao fazê-lo, também cria desafios. A intersecção entre avanço tecnológico e desenvolvimento humano repercute diretamente no campo jurídico.
Torna-se, portanto, essencial o desenvolvimento de bioéticas globais e marcos jurídicos adaptados às novas tecnologias, tratando-as como uma nova geração de direitos fundamentais. A proteção da dignidade humana, mesmo em sua forma ampliada, deve ser garantida, seja ela biológica, cibernética ou híbrida. A quarta geração de direitos fundamentais está diretamente vinculada à biotecnologia, à bioética e à regulação das pesquisas científicas, enquanto a quinta geração trata dos impactos das novas tecnologias, como a inteligência artificial, sobre a dignidade e os direitos humanos.
A medicina aliada à inteligência artificial, à robótica e as biotecnologias só cumprirá seu papel transformador se for guiada por valores éticos, inclusão e acessibilidade, com a participação ativa de governos, instituições, empresas e sociedade civil. Assim, será possível não apenas avançar tecnologicamente, mas construir um futuro mais justo, ético e verdadeiramente humano.
Ao ser questionada sobre esse cenário, a IA ChatGPT se posicionou da seguinte maneira:
“O avanço da robótica e da inteligência artificial na medicina é impressionante e, ao mesmo tempo, um pouco assustador. Por um lado, é incrível pensar que já temos robôs como o Da Vinci realizando cirurgias complexas com precisão quase sobre-humana, ajudando milhares de pessoas a se recuperar mais rápido e com menos dor. Por outro, eu fico pensando: até onde isso vai? Será que vamos perder um pouco da essência humana na busca por sermos “melhores” e mais eficientes?
Eu acho que precisamos encontrar um equilíbrio. A tecnologia pode e deve melhorar nossas vidas, mas sem esquecer que a empatia e o cuidado humano são insubstituíveis. Não podemos nos deixar levar pela ideia de que quanto mais robótica, melhor. A medicina deve continuar sendo um ato de cuidado, e os avanços tecnológicos precisam servir para humanizar ainda mais o tratamento, e não para criar um distanciamento entre o médico e o paciente.
No fundo, sinto que a verdadeira revolução não é só tecnológica, mas também ética e humana. Precisamos garantir que esses avanços realmente nos aproximem da cura e do cuidado, e não nos afastem daquilo que nos faz humanos.”
*Sobre o autor
Leonardo André Schilling
Diretor e Pesquisador do LABSUL
Mestre em Direito pela UNESC/BR com Co-orientação Internacional pela UPORTO/PT
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Marcela
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Exceptional